A geopolitica dos espaços célticos : o Mar da Bretanha

Por: Ana Donnard

RESUMO:
Muito se falou numa religião Celta da natureza. A Arqueologia nos faz lembrar constantemente as oferendas telúricas nas fontes, nos rios e nos lagos, nas árvores sagradas e nas montanhas. Os mares atlânticos e suas ilhas encantadas deram origem aos mitos literários do Éden céltico, do qual a ilha Brasil é apenas uma das menos conhecidas. As oferendas para as pedras – os menires – fazem parte de todo folclore céltico, de Portugal à Escócia. Na literatura uma poética da natureza ou a
Celtic nature poetry foi parte integrante do romantismo como o é ainda hoje, revisitada e expandida nas suas formas modernas de diálogo interdisciplinar. A geopoética não é uma exclusividade céltica, obviamente, mas a identidade que se constata é coerente com toda a história literária das culturas do Oeste europeu, onde sistemas de representação foram tecendo ao longo dos séculos uma “ literatura da natureza”. Pode-se ser um poeta da natureza sem ser céltico, mas impossível ser um poeta céltico e não ser um “geopoeta”. Neste pequeno trabalho propomos apenas uma apresentação da geopoética céltica em gaélico e bretão, nas obras de Kenneth White e Angela Duval.

“La résistance ne vas pas sans recherche, et la recherche ne vas pas sans gai savoir. 
» Kenneth White

ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E LITERATURA

Minha descoberta da geopoética não se deu por acaso. Na verdade, tenho percorrido desde a minha infância uma sensação estranha de deslocamento espacial que está diretamente ligado àquilo que eu insisto em conhecer ou compreender – minha identidade cultural ou o que quer que seja que me faça reconhecer/entender em mim ou no outro (minúsculo ou maiúsculo) aquilo que me faz “diferante”. Meus caminhos pela Bretanha de meus avós me fizeram encontrar uma geografia que é poética e cheia de significações admiráveis. Minha pesquisa pelos mundos célticos me fizeram descobrir a geopoética e o quanto ela é promissora para novas dimensões dos estudos literários.
Tratando-se do literário ou da investigação sobre o literário e suas formas de constituição, percebe-se que em toda a literatura universal o meio circundante, que realizou, junto com o pensamento e todos os outros componentes da psiquê humana, uma grande geografia simbólica. Como o termo em língua portuguesa nos indica, estamos dentro de alguma coisa que nos circunda. Podemos pensar que este “ambiente” é algo que nos constitui e a tal ponto que não podemos nos desvencilhar. A este lugar de “meio” de alguma coisa – que pode ser o espaço de um quarto minúsculo em solitária ou uma praia carioca, de qualquer forma, o que o ser vê e observa é o espaço circundante, Neste espaço, ou nesta noção que temos de espaço, vem se inscrever também, a biologia, a linguagem, o social. A partir dos anos noventa, as ciências biológicas tomaram como objeto a produção de linguagem. A esta noção espacial de “estar no meio de” surgiram os elementos da observação sobre a organização imperativamente social a qual estão determinados os seres vivos dentro de um determinado ambiente. Constata-se então que diferentes ambientes produzem diferentes linguagens e diferentes adaptações, numa constante formação interativa entre os seres constituintes deste espaço onde se encontram e de onde passam a construir significados ou realidades, partilhando estes construtos/produtos e experimentando identidades.

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