Sobrevivendo ao inverno na Idade Média
Tradução e adaptação: Mare Nostrum
Original: Surviving Winter in Middle Ages - Sandra Alvarez
Em 2013, um grupo de reconstituição medieval começou a experimentar o que seria como sobreviver a um inverno russo na Idade Média. Eles escolheram um de seus membros, Pavel Sapozhnikov, para viver em uma fazenda, com apenas ferramentas, roupas e abrigo do século IX durante seis meses, como parte de um projeto intitulado Alone in the Past. Uma vez por dia, Pavel falava por meia hora para uma câmera para contar seu dia e compartilhar suas experiências. O resto do tempo, ele estava completamente sozinho, com apenas um "check-in" mensal para garantir que ele ainda estava vivo. Ele forneceu uma visão em primeira mão das lutas que as pessoas na Idade Média enfrentavam para sobreviver ao inverno. Abaixo, segue o vídeo do projeto (em inglês):
Podemos também colher informações de manuscritos, registros judiciais e registros de legistas sobre como as pessoas viveram e morreram durante a época mais dura do ano. Como as pessoas ficavam aquecidas no inverno? O que eles comiam? O que eles faziam? Sem aquecimento interno, sem janelas com vidros duplos, sem Netflix, sem jaqueta, certamente nenhum dos luxos modernos que consideramos "necessidades". O inverno foi um tempo assustador para muitas pessoas; Se havia uma colheita ruim, você poderia morrer de fome, e havia sempre a possibilidade de contrair doenças que poderiam matá-lo facilmente, como a pneumonia. Acrescente a isso, o início da Pequena Era do Gelo de 1300 até cerca de 1870, e isso significava sobreviver a invernos muito mais frios. O inverno foi o período mais perigoso do calendário medieval. Então, como os povos medievais lidavam com isso?
Comida
O inverno iniciava-se pouco depois de Michaelmas (29 de setembro) e seguia até Candlemas (02 de fevereiro), quando ficava quente o suficiente de novo. Isso é muito tempo, então para os moradores, o outono foi gasto preservando a colheita para os meses difíceis que vinham pela frente. Para a maioria das pessoas, o pottage (um guisado composto de legumes cozidos e grãos) foi de grande ajuda durante os meses frios de inverno. Tudo foi para a sopa, incluindo frutas se tivessem alguma, uma vez que era considerado insalubre comer frutas cruas. Alimentos comumente encontrados na dieta de um aldeão incluía cebolas, ervilhas, colewort (rúcula ou roquete), feijão, lentilhas e ervas, como a salsa. Para proteína, queijo e ovos, e alguma carne quando eles conseguiam alguma, como bacon, gordura ou carne de porco salgada também eram adicionados ao pottage. Para os mais prósperos, carne, como carne de carneiro e pombo, manteiga, figos, queijo, uvas, vinho tinto foram "receitados" para combater os efeitos "apáticos" do inverno.
Vestuário
Como as pessoas ficaram aquecidas no inverno? Como nós, eles usavam capas, lenços, botas e luvas (não o tipo de cinco dedos que conhecemos, mas um estilo mais parecido com luvas de box). Casas muitas vezes enfumaçadas por conta de uma lareira de pedra que era ventilada por um buraco no telhado. Este era o calor fornecido, mas não o tipo que estaríamos acostumados sob temperaturas tão frias. O aquecimento não era exatamente o melhor, muitas pessoas usavam seu "vestuário externo" dentro de casa para se aquecer. Em outros lugares frios e com correntes de ar, como igrejas, os aldeões costumavam trazer seus próprios aquecedores de mãos para a missa; Esferas ocas de metal que mantinham carvões quentes. Lã era o tecido favorecido, mas era extremamente incomodo, por isso roupas de linho eram usadas por baixo. A transpiração reduziria o calor da lã, então as pessoas medievais muitas vezes removiam as camadas quando transpiravam e depois as vestiam novamente quando elas esfriavam.
Jogos
Só porque suas chances de sobreviver no inverno eram sombrias, e você não poderia fazer uma maratona de séries por quatorze horas na Netflix, não significa que você não poderia ter um pouco de diversão. Os povos medievais faziam muitas das coisas que pessoas que moram em lugarem que nevam fazem: jogavam na neve, brincavam com trenós e patinavam no gelo (em partes de madeira lustrada ou de ossos de espinha de cavalo). Dentro de casa, os passatempos mais populares eram jogos como xadrez e gamão. Se você fosse um nobre, você poderia desfrutar da caça de javalis. Essas atividades foram um refúgio bem-vindo de ocupação nas noites de inverno.
Feriados
"A casa de cada homem, como também suas igrejas paroquiais, foi enfeitada com azevinho, hera, baía, e tudo o que a estação do ano proporcionou ser verde" - Londres do século XII, Life in a Medieval Village.
O Natal foi o feriado mais longo do ano, eram doze dias da véspera de Natal até a Epifania (6 de janeiro) dias nos quais ninguém trabalhava. O senhor da localidade às vezes convidava seus aldeões para jantar em seu salão, em alguns casos, um camponês sortudo seria selecionado para pedir a dois amigos para vir com ele para comer e beber o quanto e o que eles quisessem, enquanto durassem a queima de duas velas (uma após a outra). Outros camponeses eram autorizados a transportar o máximo possível de comida em seus panos e roupas. Apesar das festividades, os camponeses ainda tinham que pagar uma renda extra para adicionar suprimentos à mesa do senhor, geralmente ovos, galinhas e pão. Eles também tinham outro trabalho a ser feito, mesmo que eles não estivessem trabalhando para o senhor. Eles tinham que cuidar de animais, consertar cercas, ferramentas e currais de animais. Houviam também um reparo geral em torno da casa que tinha de ser concluída durante este breve intervalo.
Referências:
Hortus Noster
Life in a Medieval Village
Frances and Joseph Gies, Harper Collins, September 7 (2010)
Surviving the Winter: Medieval-Style
Medieval Manuscripts Blog, January 19 (2015)
How Did Medieval People Keep Warm? Sarahwoodbury.com, April 26 ( 2012)
http://www.sarahwoodbury.com/how-did-medieval-people-keep-warm/
6 Months in the Middle Ages: Surviving the Moscow Winter: Alone in the Past, sputnik news.com
As traduções de artigos acadêmicos, dentre outros materiais, pelo Mare Nostrum tem a finalidade de democratizar o conhecimento e aumentar o número de produções de fácil acesso para brasileiros e brasileiras.
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